Pensar demais pode intoxicar o cérebro

22/08/2022 Marcia Ameriot

Você já se sentiu esgotado após um dia de trabalho ou estudos? Uma nova pesquisa pode explicar essa sensação. Segundo uma análise publicada recentemente na revista científica Current Biology o trabalho cognitivo intenso prolongado, por volta de 4 ou 5 horas seguidas, faz com que substâncias potencialmente tóxicas se acumulem na parte do cérebro conhecida como córtex pré-frontal. “Mesmo os jogadores profissionais de xadrez começam a cometer erros, normalmente após 4-5 horas no jogo, que não cometeriam quando bem descansados”, escrevem os autores do estudo.

O córtex pré-frontal é a área do cérebro que desempenha um papel crucial nas funções cerebrais superiores, como a memória do trabalho ou a cognição. Ela também é responsável pela escolha das opções e estratégias comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do comportamento emocional. Ou seja, pensar demais pode alterar seu controle sobre as decisões, fazendo com que você procure — mesmo que involuntariamente — por caminhos que exijam menos esforço à medida que a fadiga cognitiva se instala.

Segundo Mathias Pessiglione, da Universidade Pitié-Salpêtrière, em Paris, e um dos autores do estudo, outras teorias defendiam que a fadiga é uma “ilusão inventada pelo cérebro” para nos fazer parar alguma atividade em prol de fazer outra que seja mais gratificante. No entanto, o novo estudo contrapõe essa ideia.

 “Nossas descobertas mostram que o trabalho cognitivo resulta em uma verdadeira alteração funcional – acúmulo de substâncias nocivas. Então, a fadiga seria, de fato, um sinal que nos faria parar de trabalhar, mas com um propósito diferente: preservar a integridade do funcionamento do cérebro”, explica.

O intuito da pesquisa era compreender completamente o que é a fadiga mental. Assim, eles utilizaram a espectroscopia de ressonância magnética (MRS) para monitorar a química do cérebro ao longo de um dia de trabalho.

Dois grupos de pessoas foram analisados: aquelas que precisavam pensar muito e aquelas que tinham tarefas cognitivas relativamente mais fáceis.

Resultados

As pessoas que faziam um trabalho mais pesado apresentaram sinais de fadiga, incluindo a dilatação reduzida da pupila. Eles também demonstraram uma mudança nas escolhas para opções que propunham recompensas em curto prazo com pouco esforço. Além disso, apresentavam níveis mais altos de glutamato nas sinapses do córtex pré-frontal do cérebro. Para os autores, isso apoia a teoria de que o acúmulo de glutamato torna a ativação adicional do córtex pré-frontal maior, de modo que o controle cognitivo é mais difícil após um dia de trabalho mentalmente duro.

O estudo adverte contra tomar estas descobertas como causadoras, afirmando “nossos resultados são apenas correlacionais e não podem ser tomados como prova de que o que limita o controle cognitivo é a necessidade de evitar o acúmulo de glutamato”.

Para Pessiglione, não existe uma medida ou ação para contornar essa limitação da capacidade cerebral, mas ele aponta que “descansar e dormir” pode ser um bom começo. Há boas evidências de que o glutamato é eliminado das sinapses durante o sono.

Os pesquisadores ainda esperam fazer novos estudos para descobrir por que o córtex pré-frontal parece especialmente suscetível ao acúmulo de glutamato e à fadiga e estão particularmente curioso para saber se os mesmos marcadores de fadiga no cérebro podem prever a recuperação de condições de saúde, como depressão ou câncer.

 

Fontes:

Revista Current Biology 

CNET

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Marcia Ameriot

Bacharel em Comunicação pela PUC - SP e jornalista.Há mais de 30 anos atua no Terceiro Setor, tendo dirigido grandes fundaçōes. Desenvolveu sua carreira em Comunicação em veículos de comunicação como Folha da Tarde, Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios. Especialista em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela FGV - SP, é Reinventora CORE e Diretora de Comunicação da Associação.