Educação é um assunto por demais complexo num país tão desigual como o nosso. Os problemas são tantos que fica difícil listar: falta de investimento na área, ausência de apoio institucional, despreparo dos profissionais… Debater temas importantes, como o engessamento curricular, muitas vezes perde a importância diante de um cenário em que crianças vão à escola simplesmente pra comer.
Estou há muitos anos trabalhando com pessoas neurodiversas: autistas, pessoas com TDAH, dislexia, discalculia ou com outros problemas psiquiátricos (TOC, ansiedade, depressão, etc). A escola, de modo geral, é um ambiente cheio de desafios para elas. Eu realmente acredito na inclusão, estudo o assunto, defendo e tento contribuir para que aconteça de verdade, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos.
No último dia 19, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que autoriza o ensino domiciliar, passando agora para a apreciação do Senado. O momento é especialmente inadequado, considerando que o sistema educacional tenta se reorganizar após 2 anos de pandemia. Muitas pessoas e organizações se manifestaram contra o homeschooling por motivos pertinentes que vão desde questões pedagógicas, passando pela convivência num ambiente plural, até preocupações com abuso. Apesar de concordar totalmente com elas, preciso ser honesta: já estive várias vezes a favor do homeschooling para alguns pacientes, em situações bem específicas. Em todos esses casos, a inclusão escolar (no sentido de “o emprego de suportes adequados”) não era o principal obstáculo. O problema, maior e bem mais difícil de resolver, era justamente o convívio na escola, o bullying, a indiferença, o deboche, a crueldade, o desrespeito em suas diversas formas. Forçar uma pessoa a frequentar um ambiente intolerável, numa fase de intensa vulnerabilidade, significa colocá-la numa situação de risco. Mais uma vez, estou falando de casos específicos e não quero dizer que o homeschooling seja a solução desejável para eles. Quero apenas trazer uma questão de saúde mental para ampliar essa discussão – que envolve não só a comunidade escolar, mas a sociedade em geral.
Infelizmente, não há lei que torne as pessoas mais humanas.