As áreas de ciência e tecnologia têm sofrido com a redução de investimentos no Brasil, o que resultou em um fenômeno chamado de “fuga de cérebros”, que se refere à saída de cientistas e pesquisadores país rumo a nações em que encontrem apoio a seus trabalhos. Essa perda intelectual coincide com o encolhimento do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que reduziu cerca de 90% dos recursos. O Ministério terá que operar com somente 08% do planejado.
Especialistas da área pontuam que é difícil mensurar o tamanho atual desse fenômeno, conhecido como fuga de cérebros, porque não há dados oficiais sobre o tema. Apesar disso, afirmam que têm notado um aumento de jovens pesquisadores que partiram do país ou planejam fazer isso em breve.
Os cortes impactam diretamente no enfrentamento às pandemias. Na epidemia de zika (2015-2016) os recursos para a ciência eram maiores e o país teve sucesso no combate à doença. Mas agora está cada vez mais difícil fazer isso. A falta de insumos para pesquisas nessa área da saúde é cada vez mais grave, como é possível ver agora na pandemia da Covid-19.
No mais recente Índice Global de Competitividade de Talentos, o Brasil perdeu 25 posições de 2019 para 2020, passando do 45º lugar para o 70º. Entre as localidades que mais atraem talentos, o país caiu 28 posições nos últimos quatro anos, indo de 77º para 105º. Suíça, Estados Unidos e Singapura ocupam o pódio no quesito competitividade. A edição 2020 do ranking analisou 133 nações.
Já o relatório A corrida contra o tempo por um desenvolvimento mais inteligente, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), publicado a cada cinco anos, apresenta um capítulo específico sobre o Brasil e elenca alguns dos desafios e tendências em investimento em pesquisa e desenvolvimento nos últimos anos. No mundo, os investimentos com ciência aumentaram 19% entre os anos de 2014 e 2018, assim como o número de profissionais da área, 13,7%.
Salta aos olhos, no levantamento, que EUA e China concentram quase dois terços dos investimentos na ciência, com 63%, enquanto quatro em cada cinco países destinam menos de 1% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para pesquisas. No caso do Brasil, apenas 1,15% do PIB é reservado para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
Vão faltar recursos para importações e para bolsas de pesquisadores. Muitos projetos serão suspensos e isso prejudica a economia do país, já que muitas dessas pesquisas são feitas em colaboração com a indústria.
Uma área muito afetada pela falta de investimentos na ciência é a de pesquisas relacionadas diretamente à biodiversidade. O Brasil tem Amazônia, Cerrado, Pantanal e essa biodiversidade é fonte de pesquisas para novos medicamentos. Tudo isso será prejudicado pela política do Ministério da Economia.
O próprio Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, chamou o corte no orçamento de ‘estrago’. Para ele,
No total, a pasta teve bloqueados R$ 272 milhões e vetados R$ 371 milhões. Os recursos bloqueados poderão ser liberados ao longo do ano, se houver arrecadação e espaço no teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo federal.