Educação Financeira – Como trabalhá-la em sala de aula?

26/05/2021 Marcia Ameriot

A preocupação com a falta de planejamento orçamentário das contas pessoais do brasileiro fez a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se definir pela obrigatoriedade da educação financeira no currículo dos ensinos infantil e fundamental das escolas públicas e privadas do Brasil. A disciplina entrou no documento desses currículos desde o ano passado como um tema contemporâneo transversal, compondo o currículo de matemática. A BNCC é a responsável por definir as aprendizagens necessárias a serem desenvolvidas por todos os alunos da Educação Básica.

A escola é o ambiente em que crianças e jovens adquirem não apenas conhecimentos, como também a capacidade de viver em sociedade, fazendo escolhas que influenciarão na realização dos seus sonhos e suas atitudes influenciam na sociedade.

A educação financeira, entendida como um tema transversal, dialoga com as diversas disciplinas dos currículos do ensino fundamental e médio, de forma a possibilitar ao estudante compreender como concretizar suas aspirações e estar preparado para as diversas fases da vida.

Problema cultural

A entrada desse conteúdo como disciplina escolar encontra suporte na academia. Estudioso da educação financeira nas escolas, o professor Cláudio de Souza Miranda, do Departamento de Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, afirma que a falta de educação financeira para crianças constitui um problema cultural no país e que aguarda possível melhora desse cenário.

Porém, para que os alunos consigam entender a importância desse assunto em sala de aula, ele deve abordar a realidade vivida pelas crianças e por suas famílias. Segundo a pesquisadora Hudmaira Martins, que integra equipe da FEA-RP liderada pelo professor Miranda, é preciso que seja mostrada a utilidade do controle das finanças na vida cotidiana. “Os efeitos dessas intervenções educacionais tendem a melhorar a forma como essas crianças irão lidar com o dinheiro e como irão tomar decisões financeiras, o que, consequentemente, acarretaria na diminuição do número de inadimplentes”, explica.

 

A importância desse ensino para crianças e jovens está sempre em debate, porque o brasileiro, em geral, carece de uma vida econômica saudável. O número de famílias com dívidas no país alcançou em abril 67,5% do total de entrevistados na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Dicas para ensinar a educação financeira às crianças

Crianças que aprendem a lidar com o dinheiro desde cedo têm menos problemas no futuro. A seguir, veja atitudes simples que o professor pode colocar em prática em sala de aula para ajudar nesse desenvolvimento.

Fábulas

Opção interessante para 1º e 2º anos, as fábulas infantis podem ajudar a introduzir o tema para os pequeninos. Leitura e discussão, sempre guiadas pelo professor, são uma boa forma de fazer a turma interagir e discutir a relação de compra e venda.

É claro que tudo precisa ser bem básico e com um vocabulário muito simples, de modo que a aula se encaixe à idade dos alunos. Porém, isso não deve servir de motivo para não introduzir o assunto. Histórias ficcionais estimulam a imaginação e tornam o aprendizado muito mais fácil e natural para as crianças.

A famosa fábula “A cigarra e a Formiga”, de Jean de La Fontaine, pode ser de grande valia para esse ensino. Conte a história e depois relacione-a com o dia a dia das crianças, a fim de mostrar como o trabalho e a ação de poupar são importantes para o futuro.

Guloseimas

Essa é uma atividade ideal para 3º e 4º anos. Faça saquinhos com doces, que podem conter biscoitinho, bolacha, chocolate ou qualquer outra guloseima. O importante é que todos eles sejam iguais.

Distribua-os para a classe e fale para as crianças não comerem nem fazerem nada antes da atividade. Peça para que cada uma conte como pretende agir com o que ganhou. Se necessário, faça perguntas, como “quem vai comer tudo de uma vez?” ou “quem vai guardar os doces?”.

Depois, recolha os saquinhos e, no quadro, mostre a vantagem de cada uma das ações. Quem poupar terá doces para muitos recreios, mas quem comer tudo de uma vez passará vontade depois, quando perceber que os colegas ainda estão se deliciando com as guloseimas. É uma maneira divertida de ensinar como é importante poupar. Faça a ligação entre guardar os doces e o ato de economizar dinheiro.

Cofrinhos

Depois de ensinar as crianças a pouparem, você pode ajudá-las a ter um local para isso. Usando sucata e papel colorido, faça cofrinhos em sala de aula. Assim como caixinhas, potes de margarina e até garrafas pet podem ser usados com essa finalidade. Outra ótima ideia é usar revistas e cola que são excelentes para a decoração.

Durante a atividade, reforce o motivo de ter um cofre e a importância de poupar. Dependendo da idade, faça uma relação do tema com a poupança, para que os pequenos entendam como os pais conseguem guardar dinheiro.

Exemplos práticos

Essa é uma dica valiosa para turmas de educação infantil. A equipe pedagógica pode separar momentos para falar sobre exemplos práticos do uso do dinheiro no dia a dia, principalmente quando as noções de matemática estiverem sendo abordadas em sala de aula.

Por exemplo, os professores podem falar sobre a ida à padaria, ao supermercado e ao shopping, demonstrando como as coisas funcionam na prática e que os produtos valem o dinheiro poupado por cada um. Em sintase, descontos, pesquisas de itens e outras variáveis podem enriquecer a aula, que deve sempre se adequar à linguagem das crianças.

A recorrência desses pequenos casos é uma forma de fortalecer conceitos de educação financeira, como emprestar, poupar, negociar, doar e investir.

Jogos para a educação financeira

Outra ótima ação que estimula a educação financeira nas escolas é o uso de jogos, como o Banco imobiliário e o Jogo da Vida. Essa é uma ótima estratégia para as turmas de jardim de infância e ensino fundamental, nas quais os momentos lúdicos e as brincadeiras estão estreitamente relacionados ao aprendizado.

Dessa forma, as crianças podem se familiarizar com conceitos básicos da educação financeira e desenvolver uma postura cada vez mais madura em relação a seus gastos e economias.

Com informações do Jornal da USP e Wakke
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Marcia Ameriot

Bacharel em Comunicação pela PUC - SP e jornalista.Há mais de 30 anos atua no Terceiro Setor, tendo dirigido grandes fundaçōes. Desenvolveu sua carreira em Comunicação em veículos de comunicação como Folha da Tarde, Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios. Especialista em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela FGV - SP, é Reinventora CORE e Diretora de Comunicação da Associação.