Seu cérebro quer que você dance!

20/05/2021
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20/05/2021 Marcia Ameriot

É só ouvir uma música da qual gostamos e reparar como, quase sem querer, começamos a mover a cabeça para um lado ou para o outro. E se não for a cabeça, é um bater de pés no chão, ao ritmo da canção. Bem, se em vez de ficarmos ali parados, começarmos a dançar, tanto o corpo como a mente se sentirão muito bem.

Os resultados de numerosas publicações científicas sugerem que atividades tais como jogar tênis, nadar, correr, caminhar, andar de bicicleta ou dançar, entre outras, podem ajudar a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, ajudar a controlar o nosso peso, ou melhorar os sintomas de estresse e depressão. Também foram detectadas alterações no cérebro em termos de aumento de matéria branca e cinzenta que, por sua vez, poderiam levar a um melhor funcionamento cognitivo global. Especificamente, as pessoas que praticam esportes aeróbicos durante um período de tempo prolongado parecem melhorar sua memória e certas funções executivas, como a capacidade de resolver problemas ou inibir informação irrelevante de forma mais eficaz.

Estas mudanças comportamentais têm sido associadas a mudanças nas regiões temporais e frontais do nosso cérebro, que começam a ser visíveis seis meses após o início do esporte. Felizmente, existe uma grande variedade de exercícios aeróbicos para escolher o que melhor se adapta às nossas condições físicas ou mesmo econômicas. Um deles, como já vimos, praticamos quase involuntariamente assim que ouvimos uma canção de que gostamos: dançar.

Casais praticando dança de salão

Os menos habilidosos apenas movem alguma parte do seu corpo ao ritmo da música, e os mais ousados podem até executar passos mais complexos.  Há quem vá mais longe e se inscreva em aulas de dança de salão, jazz ou balé clássico. O importante é dançar como quisermos, como nos motiva, ao ritmo da música que nos faz vibrar, sozinhos, em pares ou em grupos.

Dançar, mais do que uma atividade física

Por que é importante? Basicamente, porque os benefícios da dança são múltiplos e quase imediatos. Para começar, nos sentimos bem e orgulhosos de nós mesmos quando somos capazes de dar dois passos seguidos sem tropeçar. Pode não ser uma proeza para o nosso professor de dança, claro. Como é fácil quando se pratica há anos, certo? Mas, para principiantes, requer muita atenção: precisamos coordenar os movimentos, o ritmo, não pisar no parceiro, e, se possível, acompanhar tudo isso com um sorriso no rosto. Por outro lado, os idosos que dançam melhoram o seu sistema de controle postural, o que se reflete tanto no equilíbrio como na caminhada. Isto é importante porque, com o passar dos anos, o nosso sistema de controle de equilíbrio muda, aumentando os tempos de reação e reduzindo a eficácia das nossas estratégias motoras de controle postural.

Há amplas provas de que o exercício físico, incluindo a dança, melhora nossa força muscular e resistência, nossas capacidades motoras, além de reduzir a probabilidade de queda.

Nosso cérebro muda quando dançamos

A dança requer, entre outras competências, concentrar o nosso sistema de atenção na atividade que vamos executar, manter instruções na nossa memória de trabalho, recordar sequências anteriores de movimentos e testar a nossa capacidade de coordenação motora. Num estudo recente na Alemanha, ficou demonstrado que este conjunto de fatores reforça a percepção e memória espacial, bem como o funcionamento executivo da pessoa, o que inclui pensamento flexível e autocontrole. Por outro lado, alguns investigadores têm demonstrado que a dança é mais benéfica do que o exercício físico repetitivo na indução de plasticidade cerebral nos idosos. Especificamente, compararam a prática da dança, incluindo coreografias novas e cada vez mais complexas, com a prática de exercício físico repetitivo, ciclismo estático e outras atividades com as mesmas exigências cardiovasculares que a dança. Embora todas as atividades melhorem tanto a saúde física como cognitiva, os resultados mostraram que a dança gera alterações cerebrais mais amplas.

Os aspectos sociais também não devem ser negligenciados. Na maioria dos casos, a dança envolve o contato com outra pessoa ou pessoas. Assim, pomos em marcha todos os processos de detecção e processamento de estímulos sociais, que são muito exigentes em termos cognitivos. De tal forma que se faz a hipótese de que o cérebro humano tenha evoluído em grande parte graças às pressões vindas de ambientes sociais complexos. E, finalmente, há a música… Esse conjunto complexo e estruturado de sons que ativa os processos perceptivos e cognitivos, bem como a nossa emoção. A ciência tem demonstrado que todas as atividades de lazer associadas à música têm benefícios cognitivos e emocionais. No contexto da dança, a música ativa processos de empatia no cérebro, modifica estados de consciência e reaviva sentimentos que têm as suas raízes na nossa história evolutiva e cultural. Tanto que se pode compreender que precede a linguagem como uma forma primária de comunicação.

 

Quando dançamos, também liberamos oxitocina, o que tem um efeito muito marcado no humor


Quando a dança é utilizada como uma forma de estimulação para os idosos, dá imediatamente fruto. São observados benefícios cognitivos, físicos, emocionais e sociais. Não parece pouco para uma atividade tão simples e em que as mudanças ocorrem dentro de poucos meses após o início da sua prática.

Então, porque esperar?  Vamos dançar?

 

Original em espanhol aqui

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Marcia Ameriot

Bacharel em Comunicação pela PUC - SP e jornalista.Há mais de 30 anos atua no Terceiro Setor, tendo dirigido grandes fundaçōes. Desenvolveu sua carreira em Comunicação em veículos de comunicação como Folha da Tarde, Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios. Especialista em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela FGV - SP, é Reinventora CORE e Diretora de Comunicação da Associação.