Chama-se “encarnação” o fenômeno teológico que se caracteriza pela união entre o divino e o humano na pessoa de Jesus de Nazaré, o Cristo que nasce numa manjedoura de Belém. Não é raro, nas várias expressões religiosas, a presença de semi-deuses: entidades que misturam as substâncias divinas e humanas num único ser. O fenômeno, do ponto de vista antropológico, remete ao desejo do ser humano em aparentar-se com os deuses, de ter atributos divinos, particularmente a imortalidade.
Acreditar que um deus nasce como humano nos alimenta na esperança de reconhecer em nós a possibilidade de sermos, também, divinos. Mas poderíamos pensar por outro lado: Deus criou o ser humano, mas não era humano. Talvez desejasse sê-lo. Sua fraqueza, se é que pode-se dizer, residia no fato de não poder tornar-se a criatura que criou a não ser unindo-se a ela, amando-a, desejando-a. A encarnação pode ser, pensada por essa via, o desejo de Deus em tornar-se humano. Embora soe paradoxal, observamos num só fenômeno, o Natal, o desejo do homem em ser Deus e o desejo de Deus em ser homem.
Que o mistério do desejo seja o grande motivo de celebrarmos a esperança deitada sobre as palhas do presépio. Feliz Natal!