Inteligência emocional em tempos de pandemia

16/09/2020
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16/09/2020 Marcia Ameriot

Se uma coisa esta crise do coronavírus trouxe à tona é que, de um modo geral, estamos muito aquém das ferramentas que nos permitem gerir nossas emoções. Provavelmente já o sabíamos antes da crise, mas nunca fomos expostos a uma situação em que tantas emoções intensas ocorreram de forma tão concentrada em poucas semanas: preocupação, ansiedade, tristeza, frustração.

Tony Schwartz, CEO da consultoria The Energy Project, e Emily Pines, diretora de conteúdos na mesma empresa, dizem que as emoções negativas como o stress, a fadiga e o pânico podem ser tão contagiosas como o novo coronavírus. Explicam que os humanos têm duas formas de reagir: a infância e a idade adulta. A parte da criança é a mais indefesa e vulnerável (uma pessoa sobrecarregada, por exemplo), enquanto a parte adulta é a que se mantém calma neste tipo de situação, a fim de tranquilizar a parte da criança.

Segundo esses especialistas, a chave para o lado adulto poder acalmar o lado infantil é a inteligência emocional. Nas situações atípicas ou extremas que todos estamos a viver face à pandemia do coronavírus, é necessário aprender a agir face à incerteza para não nos deixarmos levar por falsas notícias ou pelo pânico. Tony e Emily descrevem esta fase como uma fase de “sobrevivência” e pode ser perigosa porque não ajuda a resolver problemas complexos, pois leva o ser humano a ser reativo em vez de proativo.  

Uma opção para evitar cair no modo de sobrevivência é nomear as nossas emoções, uma vez que tê-las engarrafadas pode levar a uma explosão negativa. Uma vez expressos os sentimentos, torna-se mais fácil controlar as emoções e normalizá-las. Ou seja, observar as emoções e nomeá-las dando origem à parte adulta, em vez de ser  manipulados por elas.

Outro aspecto importante para lidar com esta crise é tentar manter a calma e concentrar-se no que podemos controlar.  Por exemplo, abastecer-se de mantimentos sem cair em pânico, pois isto pode ajudar a que nos sintamais calmos e com controle. Yasmin Anwar escreve em Futurity  que, para além de armazenar, concentrando-se em atividades que podem ser feitas em casa, tais como jardinagem ou artesanato, ajuda a controlar a ansiedade. A quarentena é uma boa oportunidade para aprender algo novo ou fazer atividades pendentes, como praticar um instrumento, terminar um livro ou iniciar um blog. Isto vai ajudá-lo a sentir-se mais controlado e a fazer melhor uso do seu tempo. O melhor de tudo é que é fácil encontrar tutoriais on-line sobre tudo, desde aulas de piano a yoga, até aprender a tricotar. Se tiver filhos, estas actividades podem também ajudá-lo a ligar-se e a criar novas atividades familiares. 

Estar em contato regular com a família e amigos, em tempos de distanciamento social, é essencial, uma vez que não o fazer pode levar a sentir-se isolado. Atualmente existem muitas aplicações e ferramentas para o fazer, desde o Facebook e WhatsApp, ao Zoom e Skype. Por outro lado,  psicólogos e especialistas recomendam que não se verifique constantemente as notícias, particularmente se isto desencadear emoções negativas ou contribuir para estar em modo de sobrevivência. A inteligência emocional permite-nos evitar acreditar em falsas notícias e cair em stress e pânico. Para evitar estes sentimentos, é necessário verificar sempre a fonte da informação – é de um especialista científico ou médico, de um representante do governo ou de um “amigo de um amigo”?

Vamos usar o Google com parcimônia ao procurar sintomas e “soluções” para o coronavírus, desta forma evitaremos o auto-diagnóstico e a automedicação. Em vez disso, recomendamos meditação e exercício, atividades que são simples de fazer em casa e que nos ajudam a ter um maior controle das nossas emoções. 

Nestes tempos incertos, a maioria das pessoas está nervosa, ansiosa, por isso é importante praticar a empatia. O coronavírus e o distanciamento social são algo que nos afeta a todos de forma diferente, por isso, tendo em conta que outros podem tomar esta situação de forma diferente pode ajudar-nos a nos conectar melhor com os outros, quer sejam nossos colegas de trabalho, amigos ou família. É também importante lembrar que cada pessoa lida de forma diferente com o stress, pelo que tentar compreender o outro através da empatia pode ajudá-lo a lidar melhor com a situação.

Finalmente, neste momento, é importante aprender a manter a calma. A tecnologia atual permite-nos permanecer ligados ao mundo exterior apesar da alienação social. Além disso, a Internet é uma grande ferramenta para encontrar tutoriais de meditação, respiração e relaxamento que ajudarão a que nos sintamos menos sobrecarregados. Nestes momentos de constante mudança e incerteza, é da maior importância manter a calma, praticar a empatia, e procurar formas de fazer com que esta crise afete o menos possível a nossa vida quotidiana. É necessário procurar reduzir os níveis de ansiedade e concentrar-se no que é realmente importante: a saúde.

REFERÊNCIAS:

The Fear Factor: Building Resilience in a Time of Crisis – The Energy Project

How to manage your COVID-19 anxiety – Yasmin Anwar

 

Marcia Ameriot

Bacharel em Comunicação pela PUC - SP e jornalista.Há mais de 30 anos atua no Terceiro Setor, tendo dirigido grandes fundaçōes. Desenvolveu sua carreira em Comunicação em veículos de comunicação como Folha da Tarde, Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios. Especialista em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela FGV - SP, é Reinventora CORE e Diretora de Comunicação da Associação.