As Ciências da Natureza na Educação Infantil: conhecer brincando

04/09/2020
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04/09/2020 Claudia Ayres

Em nosso último “bate-papo” (na verdade, no último texto que escrevi e que torço que você tenha lido…rsrsrsrsrs), eu finalizei com um pequeno enigma/provocação. Você ainda se lembra? Bem , por via das dúvidas, vou resgatar aqui, ok? Eu terminei o último texto colocando que as crianças adoram conhecer mais e que elas possuem uma maneira muito prazerosa de fazer isso. E aí eu te deixei o “tal” enigma: como elas podem fazer isso? Ou melhor, como TODOS nós fizemos, quando crianças, para conhecer mais o mundo ao nosso redor. Como pista, eu comentei que elas fazem isso o tempo todo e que usam o que tiver na frente…

Bem, acho que não só refresquei sua memória, como você já deve ter uma ideia da resposta, certo? Elas fazem isso BRINCANDO! Sim, a atividade favorita de 10 entre 10 crianças! E elas são capazes de brincar com tudo, mas é tudo mesmo rsrsrsrsrs! Nós, adultos, se estamos próximos de uma criança e começamos a observar, é precioso perceber como uma folhinha seca caída no chão ou uma simples pedrinha pelo caminho podem se transformar em instrumento de descoberta do mundo, do próprio objeto e, claro, do auto conhecer.

O brincar, que muitos talvez tratem como uma mera atividade por si mesmo, pode ser entendido por diversos olhares. O mais óbvio, acredito que seja, o do entreter, da diversão, o qual é legítimo e fundamental na construção do ser. Afinal, o prazer do brincar envolve a criança, a vincula com o momento, com o objeto, com a ação. E, neste prazer, ela tem seus sentidos aguçados: a textura do objeto, o cheiro, as cores, a sensação e percepção do movimento e do próprio corpo, entre outros. E se ela está brincando com outra criança, há uma expansão de possibilidades de olhares que não se restringem mais só ao objeto mas também ao se perceber como indivíduo e perceber o outro, o entendimento de regras “acordadas” (ou não) entre elas, a partilha das descobertas, a posse disputada do objeto ou da brincadeira, o “brincar” colaborativo quando elas criam uma brincadeira juntas, elaborando etapas e se auxiliando mutuamente. E, perceba que, nestas linhas que acabo de descrever muito resumidamente o ato de brincar, temos aprendizagens sociais, resolução de problemas e aquisição de novos saberes. E tudo isso, brincando (literalmente, neste caso)!

O desenvolvimento do indivíduo, tanto biológico ou físico, quanto social e psicológico, passa pelo brincar. E sendo este momento, algo tão intenso e rico de possibilidades, imaginem colocá-lo como porta de entrada para o saber científico? Propor à criança brincadeiras, a construção de “brinquedos”, o uso de objetos onde ela possa ter o prazer do brincar, aliado ao prazer do descobrir, do conhecer o mundo das ciências da natureza. Aliar o prazer do brincar com o do conhecer, com o do descobrir, construirá na criança uma memória de uma saber que é dela e que ela o construiu se divertindo, estabelecendo em seu cognitivo um campo de conhecimento das Ciências da Natureza com gostinho de quero mais! E sabe por quê? Porque faz sentido para a criança, ela vivenciou o saber, ela atuou nesta construção. Tem significado! Bem, ao menos é isso que busco nas intervenções, quando penso na proposição de um experimento, uma prática. E, cá entre nós, não foi assim também conosco? Ou seja, o conhecimento (não importa a área) que nós vivenciamos, participamos, construímos, não foi aquele que tivemos mais prazer e, provavelmente, o que teve mais  significado para nós?

Vou te deixar pensando sobre isso até o nosso próximo papo, ok?

Até breve!

 

 

 

📸 Dominika Roseclay

Claudia Ayres

Reinventora CORE, professora e pesquisadora, possui Bacharelado em Química pela Universidade de São Paulo (1995), Licenciatura em Química pela Universidade de São Paulo (2007), especialização em Psicopedagogia pelo INPG (2004), Mestrado em Ensino de Ciências - área Química pelo programa Interunidades da Universidade de São Paulo (2011) e doutora em Ensino de Ciências - área Química pelo programa Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo (2018)