Vivemos num tempo em que o real é aquilo que está na tela, a imagem. E o que vai para a tela? Aquilo que alguém – no atual contexto pode ser a mídia oficial, um grupo político ou até um indivíduo – decide ser verdadeiro. Estou lendo a obra “A Imortalidade”, de Milan Kundera. O enredo, que nasce de uma imagem vista pelo autor, discute a força de nossas projeções sobre um recorte do real. Ele pondera que “a realidade, hoje, é um continente que pouco visitamos, e que justificadamente não amamos”.
Esse medo do enfrentamento da realidade, do encontro sinestésico com as problemáticas humanas reais, faz com que prefiramos acreditar na tela. Pela falta de pensamento crítico da maioria de nós, que prefere ficar com a verdade da tela, permanece o poder da imagologia. Kundera prossegue: “o poder dos imagólogos viverá sempre dentro da verdade, e, mesmo que eu soubesse que tudo que é humano é perecível, não poderia imaginar que força conseguiria quebrar esse poder”. Isso porque, nesse fenômeno cada vez mais dominante, a verdade é fabricada. E iludem-se aqueles que pensam que uma ideologia, um partido político ou uma determinada gestão governamental será isenta de utilizar-se da imagologia.